quarta-feira, 17 de setembro de 2014

ADUBAÇÃO



NUTRIÇÃO

Existem dois grupos de seres vivos em relação à obtenção de seu alimento, os heterotróficos e os autotróficos. Os seres vivos heterotróficos são aqueles que não conseguem produzir seu próprio alimento, como por exemplo, nós, que dependemos de uma fonte externa de energia para sobrevivermos, a qual adquirimos com os alimentos que ingerimos. Já as plantas, que são organismos autotróficos, conseguem produzir seu próprio alimento a partir de minerais, água, CO2 e luz (fotossíntese).

Cerca de 95 % da matéria seca de uma planta é constituída de carbono (C), oxigênio (O) e hidrogênio (H). O restante (5 %) é composto pelos chamados nutrientes minerais, também conhecido como elementos essenciais. Estes nutrientes estão divididos em dois grupos, aqueles que são exigidos em maiores quantidades, macronutrientes, e os que são exigidos em menores quantidades, micronutrientes. Os macronutrientes são: nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg) e enxofre (S); e os micronutrientes: ferro (Fe), manganês (Mn), zinco (Zn), cobre (Cu), boro (B), molibdênio (Mo), cloro (Cl) e níquel (Ni). Estes elementos são essenciais ao desenvolvimento da planta, ou seja, na ausência de qualquer um deles a planta não consegue sobreviver. 

Os elementos C, O e H são fornecidos à plantas a partir da água e CO2, não havendo limitação desses nas condições normais de cultivo. A limitação de qualquer nutriente resultará em crescimento e desenvolvimento mais lento, em plantas mais susceptíveis a doenças e pragas e, em casos mais severos de limitação nutricional, no surgimento de sintomas visuais de deficiência.


FUNÇÕES DOS NUTRIENTES NAS PLANTAS

Como se viu anteriormente existe nutrientes minerais que são essenciais à manutenção da vida das plantas, agora será descrito o papel destes nutrientes. Pode-se comparar a sua atuação com a construção de uma casa, qualquer construção tem componentes fixos, como paredes e pisos, que não podem ser transferidos de um lugar para outro, também existem componentes móveis, como lâmpadas, as quais poderão ser transferidas de um cômodo para outro caso seja necessário, e ainda podemos citar outros componentes, como: interruptores, torneiras, tubulação, a partir dos quais será permitida a passagem de energia elétrica, ou água.

Comparando uma construção com uma planta, percebe-se que a mesma tem elementos estruturais os quais dão sustentação a planta e seriam equivalentes aos tijolos e cimento das paredes e pisos, elementos envolvidos em reações ou energia, seriam equivalentes a energia elétrica, e outro grupo de elementos seriam aqueles envolvidos nos processos de ativação, seriam semelhantes a um interruptor ou torneira, ou seja, é através deles que a corrente elétrica ou a água passam.

Na natureza as orquídeas obtêm seus nutrientes no ambiente que as cercam, porém estes estão disponíveis em pequenas quantidades ao longo de todo ano. A água da chuva escorre pelos troncos e leva os nutrientes até as raízes das orquídeas e de outras plantas epífitas. Além disso, toda matéria orgânica (restos de vegetais, animais e insetos mortos e outros detritos) próxima as orquídeas no ambiente natural se decompõe com a ajuda de diversos microorganismos fornecendo a elas todos os nutrientes de forma contínua e em doses homeopáticas. Outra fonte de nutriente é aquela oriunda de microrganismos de vida livre fixadores de nitrogênio, estes captam o N2 atmosférico e fornecem as orquídeas epífitas próximas.

Acreditou-se durante muito tempo que a adubação de orquídeas seria uma prática dispensável, porém percebeu-se que a adubação produzia efeitos significativos no cultivo de orquídeas, produzindo plantas maiores, florescendo com menos tempo e sem sintomas de deficiência nutricional. Entretanto, vale ressaltar que existem grandes diferenças entre as adubações feitas pelo homem e aquelas feitas pela natureza, o homem tem pressa querendo ver respostas o mais rápido possível, já a natureza se importa apenas com a resposta não considerando o tempo, com isso não é raro a ocorrência de problemas com a aplicação em excesso de fertilizantes, levando em muitos casos à morte da planta. Porém nos cultivos comerciais e da maioria dos colecionadores ocorre forte pressão para que a planta floresça o mais rápido possível, com isso ocorre a grande aplicação de fertilizantes minerais e, ou, orgânicos com o objetivo de antecipar a floração da planta.

Considerando que a população de plantas epífitas não se restringe somente às orquídeas e que existem inúmeras outras plantas sobre troncos ou árvores, percebe-se que a quantidade de nutriente disponível para cada planta é muito pequena, mas suficiente para que a mesma cresça e se desenvolva de forma lenta e gradual. É muito comum na natureza plantas levarem décadas para florescer, acumulando nutrientes e reservas para que a reprodução seja possível. A emissão de uma flor e, ou, a formação de um fruto demanda muita energia e isso só é possível quando a planta apresenta um estoque de nutrientes e de carboidratos suficiente para sustentar tais eventos. O objetivo da planta é produzir sementes e para isto não tem necessariamente um tempo estipulado. Dependendo da riqueza do ambiente e da disponibilidade de nutrientes e água, essa planta levara mais ou menos tempo para florescer e frutificar.

 A adubação em orquidários é prática considerada obrigatória na atualidade, visto que as fontes de nutrientes que a planta dispunha na natureza são extremamente restritas em condições comerciais. Nesse caso há limitação de espaço para que as raízes explorem o ambiente, falta de deposição de matéria orgânica das diversas fontes da natureza e uma grande concentração de plantas em um pequeno espaço, obrigando as mesmas a competirem pela pequena disponibilidade de nutrientes.

A maioria dos substratos utilizados no cultivo de orquídeas é extremamente pobre em nutrientes, tornando obrigatória a adubação para que se tenha sucesso na produção de belas plantas. Entre os substratos utilizados destaca-se o xaxim que foi durante muito tempo o mais utilizado no cultivo. Hoje, com a proibição do seu uso, inúmeros outros substratos surgiram em substituição ao xaxim, porém a maioria desses é pobre em nutrientes e torna obrigatório o uso de fertilizantes para quem quer ter pleno florescimento de suas plantas.

Muitos questionamentos são feitos em relação à adubação, algumas pessoas relatam que não adubam suas plantas e conseguem florescimento das mesmas. Esse fato pode ocorrer, porém varia muito com a espécie em questão, com a riqueza do ambiente e do substrato; e na maioria desses casos a qualidade da flor formada e pouco satisfatória. Quando adubada a mesma pode apresentar um número maior de flores, maior tamanho, maior durabilidade e antecipação do florescimento. Trabalhos recentes em nutrição de orquídeas comprovam tais fatos.

A adubação é uma ferramenta importante na manutenção da saúde de qualquer planta, e quando utilizada de forma correta traz resultados muito satisfatórios.

Elementos essenciais e benéficos

Considerando uma análise mineral completa de tecidos vegetais encontrar-se-ão inúmeros elementos químicos. Porem a simples presença de um elemento químico em uma planta não significa que o mesmo exerça alguma função no metabolismo da mesma. Dentre os elementos encontrados no tecido vegetal existem aqueles chamados essenciais e denominados de nutrientes, estes desempenham importantes funções no metabolismo vegetal e na ausência de qualquer um deles a planta não sobrevive.

Para que um elemento químico presente no tecido vegetal seja considerado essencial para a planta é necessário que o mesmo obedeça aos seguintes critérios:
 1 – Sem ele a planta não completa seu ciclo de vida, ou seja, de semente a semente,
2 – O elemento não pode ser substituído totalmente por outro semelhante,
3 – Este elemento deverá participar diretamente no metabolismo da planta.

Elementos essenciais – Nutrientes

Carbono, Hidrogênio e Oxigênio: Esses elementos, em condições normais, são fornecidos pelo ar e água e são objeto de estudo da Fisiologia Vegetal.

Principais funções dos nutrientes minerais em plantas:

Nitrogênio (N) – Constituinte de aminoácidos, proteínas e, portanto, de enzimas; é constituinte, também, de ácidos nucléicos, ATP, alcalóides, clorofila, bem como de componentes estruturais da parede celular. Sua deficiência tem como maior problema a limitação na síntese de proteínas e, como conseqüência, a falta de enzimas com forte efeito negativo sobre o crescimento e desenvolvimento da planta. Sua deficiência causa clorose ou amarelecimento foliar, em razão da menor síntese de clorofila.

Fósforo (P) – Envolvido na transferência de energia pela formação de compostos, como ATP, ricos em energia, e como componente de membranas celulares e ácidos nucléicos. É o elemento mais envolvido no processo de estocagem e consumo de energia na planta. Ativador de enzimas-chave no metabolismo.

Potássio (K) – Sua função principal é o controle do balanço hídrico da planta, ou seja, é responsável pelo turgor da planta por meio do controle da abertura estomática. Essencial à síntese de proteínas e carboidratos. Ativador de numerosas enzimas. Cálcio (Ca) – Maior constituinte da parede celular, sendo, portanto, essencial à formação de novas células (divisão celular) e à estabilidade de membranas celulares. Ativador de enzimas.

Magnésio (Mg) – Componente da clorofila. Requerido para a síntese de proteínas e ativador de enzimas.

Enxofre (S) – É constituinte dos aminoácidos cisteína e metionina, o que torna a síntese de proteínas limitada pela deficiência deste nutriente.

Ferro (Fe) – Componente de reações relacionadas a ganho (fotossíntese) e perda (respiração) de energia, dada sua função na transferência de elétrons (e-), por meio dos estados de oxidação reversíveis: Fe3+ + e- ↔ Fe2+ (constituinte da cadeia de transporte de elétrons).

Manganês (Mn) – Possui propriedades similares às do magnésio em alguns sistemas enzimáticos. Envolvido na regulação da concentração de auxina1 na planta por meio da enzima auxina-oxidase. Requerido na fotossíntese para a divisão da molécula d’água pela luz.

Cobre (Cu) – À semelhança do ferro, participa de reações relacionadas à cadeia de transporte de elétrons (Cu2+ + e- ↔ Cu+). Ativador de diversas enzimas. 

Zinco (Zn) – Envolvido na síntese de auxina e, portanto, no alongamento celular: alongamento de entrenós, folha, etc. Constituinte de muitas enzimas.

Boro (B) – Constituinte de membranas e parede celular, sendo, portanto, essencial à divisão e ao crescimento celular.

Molibdênio (Mo) – Constituinte de duas enzimas essenciais ao metabolismo do nitrogênio na planta: a nitrato redutase, responsável pela redução do nitrato absorvido e a conseqüente utilização deste nutriente na síntese de proteína; e a nitrogenase, envolvida na fixação biológica do nitrogênio atmosférico2. Portanto, é um elemento envolvido em transporte de elétrons (MoVI+ + e- ↔ MoV+). A deficiência deste nutriente na planta causa sintoma semelhante ao provocado pela deficiência de
nitrogênio.

Cloro (Cl) – Envolvido na divisão da molécula da água com evolução de O2 no processo fotossintético. Apesar de sua essencialidade à planta, teoricamente comprovada em ambiente controlado, sua deficiência não tem sido detectada em ambientes não-controlados.

Níquel (Ni) – Constituinte enzimática da urease. A urease é essencial à utilização da uréia como fonte de N pelas plantas. Sem a urease, a aplicação de uréia causa grande acúmulo deste composto na planta, levando à necrose intensa nas pontas das folhas. Assim, a toxidez provocada pela uréia pode ocorrer em plantas com baixa concentração de Ni. A concentração ótima (ideal) de Ni em plantas, de modo geral, está na faixa de 1 a 10 mg/kg de matéria seca. Não há informações sobre sua concentração ideal em orquídeas.



Sintomas visuais de deficiência nutricional

A deficiência de qualquer um dos nutrientes irá limitar o crescimento e desenvolvimento da planta e, dependendo da intensidade com a qual essa deficiência esteja ocorrendo, será possível observar sintomas evidentes dessa deficiência. Também pode ocorrer uma deficiência silenciosa, na qual a planta não manifesta claramente os sintomas de deficiência nutricional, sendo a redução no crescimento da planta o sintoma visual mais proeminente dessa deficiência.

Esses sintomas são divididos em dois grupos: sintomas de deficiência relativos aos nutrientes móveis e sintomas relativos aos nutrientes imóveis, ou seja, existe diferença no comportamento dos nutrientes dentro da planta. Como já se sabe existem elementos estruturais, os quais, não poderão ser retirados de uma determinada parte da planta para satisfazer as necessidades de outra, são os chamados nutrientes imóveis e o sintoma de sua deficiência se dá em regiões novas como brotos e raízes em formação, por outro lado existem elementos móveis que podem ser retirados de uma determinada parte da planta para satisfazer outra, assim, sob condições de deficiência desses nutrientes, a planta transfere o nutriente de um órgão mais velho e menos ativo, para um órgão novo e mais ativo que necessita do nutriente, aparecendo, então, os sintomas nas partes mais velhas. Com isso podemos construir uma chave de identificação de sintomas visuais de deficiência nutricional.



Chave de identificação de sintomas visuais de deficiências nutricionais em orquídeas

Mobilidade na planta

Outra classificação possível dos nutrientes diz respeito a sua mobilidade na planta, alguns nutrientes tem alta mobilidade, outros não podem ser realocados pela planta. 

Elementos móveis:  N, P, K, Mg, Cl: No caso destes elementos sua translocação na planta é rápida, com isso a prioridade da planta por esses nutrientes, no caso de deficiência, se dará nas regiões de franco crescimento e dessa forma esses nutrientes serão translocados das regiões velhas para as regiões novas, surgindo os sintomas visuais de deficiência nas folhas mais velhas.

 Elementos imóveis ou pouco móveis:  Ca, B, Mn, Fe, Zn, Cu, Mo e S: Nutrientes para os quais não há mobilidade ou a mesma é muito restrita na maioria das espécies. Nessa condição estes nutrientes não são translocados para as regiões de franco crescimento, logo os sintomas de deficiência ocorrerão nas partes novas, as quais não receberão o nutriente nem do solo e nem de outras regiões da planta de forma satisfatória.

Nutrientes móveis (sintomas ocorrem em folhas mais velhas)

N  - Amarelecimento uniforme de folhas mais velhas (traseiras), com posterior perda destas folhas, permanecendo apenas o pseudobulbo no caso daqueles gêneros que o possuem. Redução do crescimento.

P - Crescimento reduzido; plantas com folhas com um verde muito escuro e, ou, avermelhadas (manchas avermelhadas pelo acúmulo de antocianina – pigmento avermelhado).

K - Amarelecimento e necrose (morte de tecido) de folhas mais velhas; plantas mais suscetíveis a pragas e doenças.

Mg - Folhas velhas com clorose internerval. Pontas das folhas cloróticas esbranquiçadas, dobradas (enroladas) para dentro.

Nutrientes imóveis (sintomas ocorrem em folhas mais novas e brotações)

Ca - Morte de brotações e raízes novas. Crescimento restrito de raízes.

 S - Amarelecimento uniforme, mais intenso nas folhas mais novas.

B - Morte de brotações e de raízes. Engrossamento de folhas novas e de pontas
de raízes. 

Nas flores, pétalas, sépalas e labelo não se formam completamente, deformando-se.

Mn e Fe - Folhas novas com clorose e possível necrose internerval. No caso de deficiência de Fe, a clorose tende a ser mais clara, esbranquiçada. Dada a semelhança do sintoma desses dois nutrientes, a separação entre eles deve ser feita determinando-se suas concentrações foliares para verificar qual
deles ou os dois é, ou são, limitante(s).

Cu - Folhas novas deformadas, retorcidas.

Zn - Folhas novas anormalmente pequenas, lançamentos ou entrenós curtos. Limitado crescimento de tecidos mais novos. Brotação intensa de gemas, com morte subseqüente das brotações.





REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SANTOS, F . A.; Nutrição e fertilização de orquídeas Estudo de caso – Cattleya walkeriana; Núcleo de Pesquisa e Conservação de Orquídeas - Universidade Federal de Viçosa (NPCO – UFV); VIÇOSA / MG; 2010.

B&G Flores - Bonitas e Grandes Flores, Nutrição Vegetal; DISPONIVEL EM:  http://www.begflores.com.br/home.php?m=3&c=0&p=1; 17/09/2014; 17:01.